É noite, e Ela está sozinha. Quer dizer, tem gente à sua volta, mas a solidão dela é diferente, na verdade, é a de sempre, os salões de seu coração estão vazios e gelados nevou há pouco e a lenha se acabou.
Ela está dentro de um ônibus a caminho de lugar algum, e “as meninas” choram, a “Garota Mascarada” chora por não conseguir ser quem é, a “Menina Desprotegida” sofre por ser a causa do sofrimento da primeira.
Mas quem mais sofre , e derrama suas lágrimas em silêncio é Ela , porque não consegue aliviar o sofrimento de suas “meninas” (e assim o seu próprio sofrimento).
Só Ela sabe como é difícil acordar todos os dias olhar-se no espelho e montar uma a uma suas camadas de proteção depois, fazer a “Menina Desprotegida” penetrar cada vez mais fundo dentro dos muros do seu castelo e lentamente escondê-la sob a face da “Garota Mascarada”.
Todos os dias as três choram durante o processo mas sabem que se não fossem as suas muralhas muito provavelmente estariam mortas.
Algumas pessoas acham-na fria, outras seca,mas nem as pessoas que Ela mais ama sabem que seus sorrisos são sempre uma mentira para esconder suas lágrimas.
“Minha maior mentira todos os dias é o meu sorriso”.
Ela não se permite o luxo do amor e da paixão, porque para isso teria de baixar a guarda, e todas as vezes que fizera isso fora dilacerada.